O sonho da casa própria está ainda entre os principais desejos financeiros dos brasileiros. Mas não é qualquer um que pode – e topa – pagar salgadas parcelas por 30 anos. A boa notícia é que o corte da taxa Selic forçou os grandes bancos, os principais financiadores do país, a se mexerem e também diminuir as taxas de juros dos financiamentos da casa própria.
O anúncio mais recente foi o do Bradesco. O banco comunicou na última segunda-feira (30) a redução da taxa de 8,20% ao ano + Taxa Referencial (TR) para a partir de 7,30% ao ano + TR. O cliente pode financiar até 80% do valor do imóvel e pagar em até 360 meses (30 anos).
Antes dele, no dia 27 de setembro, o Itaú havia comunicado que a partir de 1º de outubro, a taxa mínima cobrada seria de 7,45% ao ano +TR, variando de acordo com o perfil do cliente e de seu relacionamento com o banco. Antes, as taxas iniciavam em 8,10% mais TR. Em julho, foi o Santander que cortou a taxa, de 8,99% para 7,99% ao ano + TR e alongou o prazo máximo de 30 para 35 anos.
Um levantamento feito pelo portal Melhortaxa a pedido do Valor Investe mostra como estão hoje as taxas mínimas dos empréstimos nas principais instituições financeiras:
Taxa mínima de juros de financiamento imobiliário
Bradesco | 7,30% ao ano + TR |
Itaú | 7,45% ao ano + TR |
Santander | 7,99% ao ano + TR |
Banco do Brasil | 8,29% ao ano + TR |
Caixa Econômica | 8,50% ao ano + TR |
“É importante notar que a Caixa, que historicamente empurra a concorrência dos outros bancos no produto, não puxou desta vez. Outros bancos estão na frente. Com menos dinheiro disponível, a Caixa está focando em seu novo modelo de financiamento, anunciado recentemente”, diz Rafael Sasso, cofundador da Melhortaxa.
A Caixa Econômica lançou em agosto uma linha de financiamento de imóveis com juros fixos mais baixos, de 2,95% a 4,95% ao ano, mais a correção pela inflação. O novo modelo promete reduzir o valor das parcelas iniciais e ampliar o acesso ao crédito. Mas a correção pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também apresenta riscos e até parcelas maiores no longo prazo.
Para saber mais sobre isso, veja nossa matéria “Entenda o novo financiamento imobiliário da Caixa”.
“O produto [a nova linha de financiamento da Caixa] em si não tem inovação, já que é usado para financiar os fundos de investimentos e a tabela do incorporador. Mas, é a primeira vez que um banco grande usa o modelo. Interessante também porque aproxima o mercado de capitais, ao agrupar esses créditos, emitir títulos e vendê-los no mercado”, disse Sasso.
Além dos bancões, é difícil encontrar outras formas de financiar um imóvel. O Banco Inter é um dos menores que oferece o produto, mas as taxas são maiores (9% ao ano +Taxa Referencial). A instituição tem um total de R$ 2 bilhões destinados ao crédito imobiliário.
Há plataformas, que têm o objetivo de conectar os compradores com o crédito. Pelo site delas é possível simular e contratar um financiamento imobiliário ou um empréstimo com garantia imobiliária. Para ver quais opções você pode pesquisar, veja nossa reportagem sobre o assunto: “Quer financiar um imóvel? Conheça 5 comparadores gratuitos de taxas”.
Vale a pena comprar e financiar um imóvel?
O setor foi um dos mais afetados nos últimos anos. Mesmo antes da crise econômica já enfrentava uma desaceleração. Apesar de uma leve recuperação nos últimos meses, o índice FipeZap aponta que os preços de imóveis continuam em certa estagnação e o retorno para quem quer alugar não anda tão bom quanto costumava ser.
“A taxa de juros em queda deve aquecer o mercado, mas não é suficiente”, afirma Marcelo Prata, especialista em crédito e mercado imobiliário e fundador das plataformas Resale, de venda de imóveis retomados, e do site de comparação de produtos financeiros Canal do Crédito.
“A compra do imóvel, principalmente com financiamento, depende do tripé emprego, renda e confiança do consumidor em alta. Se a pessoa não tiver confiança de que vai continuar empregado e com sua renda crescendo, dificilmente irá entrar em um financiamento de 30 anos”, comenta Prata.
Mas, na opinião do especialista, quem tiver dinheiro para dar ao menos 25% de entrada este pode ser um bom momento para comprar e ainda conseguir barganhar.
“Estamos em um momento muito interessante, com taxas em patamares mais baixos do que o momento pré-crise e com um mercado imobiliário que ainda não se recuperou da crise. Como o mercado ainda não reagiu, as pessoas podem encontrar imóveis e preços de acordo com a realidade”, diz Prata.
Um alerta, porém, é para o valor das parcelas. Como muitas pessoas pensam em comprar e parcelar para sair do aluguel, é preciso checar se as parcelas do início cabem no bolso porque elas podem ser três ou quatro vezes o valor que a pessoa pagaria de aluguel naquele imóvel.
“É pedir para dar errado assumir uma prestação que é muito maior do que o seu aluguel. Encarece o custo fixo e você pode ter problema para pagar”, comenta o especialista.